sábado, 9 de julho de 2011

Olhe-se no espelho - texto de Lya Luft.




Mês passado participei de um evento sobre as mulheres no mundo contemporâneo.
  
  
Era um bate-papo com uma platéia composta de umas 250 mulheres de todas as raças, credos e idades. E por falar em idade, lá pelas tantas, fui questionada sobre a minha e, como não me envergonho dela, respondi. 
  
  Foi um momento inesquecível...  A platéia inteira fez um 'oooohh' de descrédito.
  
  
Aí fiquei pensando: 'pô, estou neste auditório há quase uma hora exibindo minha inteligência, e a única coisa que provocou uma reação calorosa da mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que tenho? Onde é que nós estamos?'
  
Onde, não sei, mas estamos correndo atrás de algo caquético chamado 'juventude eterna'. Estão todos em busca da reversão do tempo.
  
    
Acho ótimo, porque decrepitude também não é meu sonho de consumo, mas cirurgias estéticas não dão conta desse assunto sozinhas. 
           Há um outro truque que faz com que continuemos a ser chamadas de senhoritas, mesmo em idade avançada. A fonte da juventude chama-se ‘mudança’.
  
De fato, quem é escravo da repetição está condenado a virar cadáver antes da hora. 

  
  A única maneira de ser idoso sem envelhecer é não se opor a novos comportamentos, é ter disposição para guinadas.
  
  Eu pretendo morrer jovem aos 120 anos.
  
  Mudança, o que vem a ser tal coisa?
  
  Minha mãe recentemente mudou do apartamento enorme em que morou a vida toda para um bem menorzinho.
  
  Teve que vender e doar mais da metade dos móveis e tranqueiras, que havia guardado e, mesmo tendo feito isso com certa dor, ao conquistar uma vida mais compacta e simplificada, rejuvenesceu.
  
  Uma amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens do marido e o mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos.
  
  Rejuvenesceu.

Uma outra cansou da pauleira urbana e trocou um baita emprego por um não tão bom, só que em Florianópolis, onde ela vai à praia sempre que tem sol.
  
  Rejuvenesceu.

Toda mudança cobra um alto preço emocional.
  
  Antes de se tomar uma decisão difícil, e durante a tomada, chora-se muito, os questionamentos são inúmeros, a vida se desestabiliza.
  
  Mas então chega o depois, a coisa feita, e aí a recompensa fica escancarada na face.

Mudanças fazem milagres por nossos olhos, e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna.
  
  Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem, só que continuará opaco porque não existe plástica que resgate seu brilho.
  
  Quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente optou por levar.

Olhe-se no espelho...”

Lya Luft
 

Um comentário: